quinta-feira, 21 de junho de 2012

Brasil, um país de leitores

Só que não é. Infelizmente não é.

O brasileiro não é chegado em leitura, isso é fato. Foi o que comprovou um estudo, que também constatou que o número de livros lidos em 2011 foi menor comparado com 2007. Mas confesso que a média de quatro livros não é de todo ruim; conheço gente que há anos não encosta num livro, quando muito lê um jornal e olhe lá! Tudo bem que o Brasil está atrás de vários países vizinhos, logo, é melhor nem comparar com a média européia.

O brasileiro não é chegado em leitura, isso é fato, mas eu não acho que seja porque brasileiro é burro e preguiçoso como eu já ouvi muitos dizerem, pois é muito fácil generalizar e jogar a culpa na nossa suposta falta de inteligência e preguiça. O Brasil não é um país de intelectuais. O Brasil é um país de analfabetos funcionais. Houveram mudanças, a economia melhorou, o IDH também, mas a educação continua capengando. É muito comum encontrar estudantes da quarta série que leem sofregamente, leem mal, não são capazes de interpretar o que está escrito e são incapazes de redigirem um texto inteligível. Até mesmo no ensino superior, muitos universitários escrevem tão errado a ponto de você se perguntar como eles conseguiram passar na prova de redação do vestibular.

Alguns dizem que é uma questão cultural, histórica, pois a gente acaba repetindo os exemplos que teve em casa, ou seja, quem cresce num ambiente literário, muito provavelmente se transformará num leitor ávido. Bom, eu não venho de uma família de grandes leitores, meu pai gosta de ler, mas ele prefere os jornais e as revistas do que os livros, minha mãe não era dada a leituras, muito menos minha avó. Mesmo assim desde que aprendi a ler, leio tudo o que cai nas minhas mãos. Porém, meu irmão odeia ler, para ele é quase uma indecência essas velharias que eu gosto de ler. Desde criança foi assim, enquanto eu ficava concentrada num livro, meu irmão só lia quando era necessário e isso porque minha mãe ficava do lado dele, porque se não ele se levantava da mesa e saía correndo pela casa. Temos aí meu irmão e eu, duas pessoas cridas no mesmo lar, com os mesmos valores, estudamos nos mesmos colégios e enquanto eu adoro ler, ele tem praticamente ojeriza. Então nem sempre é uma questão de lar, de criação.

Nós não éramos ricos, mas nunca nos faltou nada, sempre estudamos em colégios particulares e tivemos uma boa educação. O orçamento familiar nunca foi folgado, tudo sempre foi muito certinho, controlado; para muitas famílias trinta reais gastos num livro faz uma diferença significativa, por isso muitas vezes eu não podia ter o livro que queria - os outros livros - porque os livros didáticos nunca nos faltou. E para quem tem filhos ou tem irmãos sabe que quando você dá uma coisa para um tem que dar para o outro, ao menos que seja aniversário, porque não se pode presentear um filho em detrimento de outro. Eu tive sorte de estudar em colégios com bibliotecas, pois muitos colégios, inclusive os particulares, não têm. São poucas as bibliotecas públicas de fato, aquelas aberta ao grande público, onde qualquer um pode pegar o livro que quiser. Você, na sua cidade, quantas bibliotecas assim você encontra? Se fala de pessoas que nunca entraram numa biblioteca, mas não se fala se essa pessoa tem acesso à bibliotecas.

Muitas pessoas têm vontade de ler, de aprender, de estudar, mas não têm acesso. Ou por limitações financeiras e físicas, ou por limitações intelectuais, fruto de uma educação básica débil. Por isso que eu não acredito que brasileiro não leia por ser preguiçoso ou burro. Tá bom, alguns têm acesso, têm condições e não leem, mas isso é uma escolha pessoal - ler também é uma questão de gosto - porém acredito que eles sejam minoria. A maioria não lê por alguma limitação. Quem sabe um dia essas limitações serão sanadas e o Brasil se tornará um país de leitores?

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