domingo, 30 de setembro de 2012

O Descobrimento do Brasil e a Antropofagia Tropicalista de Tom Zé



O filósofo Kant no seu livro Crítica da Razão Pura define lugar lógico como “todos os conceitos que encerram vários conhecimentos” e é isto que Tom Zé faz no seu novo disco: “Tropicália Lixo Lógico” ao expor nas suas canções, através de um intrincado e inventivo jogo de palavras, assuntos como filosofia, história, ciência, religião e crítica social.

O caso mais famoso de antropofagia se deu em 1556, quando o bispo Sardinha foi capturado e devorado pelos índios Caetés. Anos depois, esse episódio serviu para elucidar alegoricamente o Manifesto Antropófago, quando Oswald de Andrade sugeriu que devíamos fazer o mesmo que os antropófagos: devorar o inimigo e absorver o que nele havia de melhor. Ou seja, pegar o que melhor havia na cultura de vanguarda européia e juntá-la com a cultura nacional, para depois expeli-la. 

O lixo aqui não é algo inútil e descartável, sem utilidade; o lixo é o resultado. É a junção do conhecimento aristotélico com a cultura do mouro, mesclada com a cultura greco-romana e brasileira, desembocando na Tropicália em “Apocalipsom A” - primeira faixa do disco. São as Grandes Navegações, o descobrimento do Brasil, desembocando naquele dia de outubro de 67, em meio a ditadura, quando Gilberto Gil, juntamente com Os Mutantes, cantou “Domingo no parque” e Caetano Veloso com sua “Alegria, alegria” deram o ponta pé inicial do movimento Tropicalista; em “Tropicalea Jacta Est” - terceira faixa do disco. O lixo também é o sincretismo religioso, as desigualdades sociais, Canudos e o sebastianismo; a violência nas cidades modernas. É a globalização; o ser humano e suas conexões neurais no meio disso tudo. 

Tom Zé não segue fórmulas; sua música não é catequizada. Portanto, para ouvir “Tropicália lixo lógico” é preciso esquecer toda a sua experiência prévia com música; é preciso ouvi-las como se fossem as primeiras da sua vida; para que assim elas possam ser melhor absorvidas. 

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