quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A Pasárgada Onírica de Manuel Bandeira

A Pasárgada de Manuel Bandeira não tem nada a ver com a Pasárgada da antiga Pérsia - hoje um sítio arqueológico. A Pasárgada paradisíaca citada no famoso poema de sua autoria “Vou-me embora pra Pasárgada” é um lugar psíquico, um refúgio, onde ali os problemas não o alcançariam. Afinal, quem nunca teve vontade de largar tudo e se mudar para uma ilha deserta, ou qualquer lugar bem longe? 

Bandeira contraiu tuberculose muito cedo, numa época em que o diagnóstico da doença era praticamente uma sentença de morte. Passou a juventude internado em hospitais e, devido ao seu frágil estado de saúde, não pode concluir os estudos. Manuel Bandeira tinha ali na sua Pasárgada fictícia, um lugar onde podia viver a vida de forma plena, sem as limitações físicas provocadas pela doença.

Mas, ironicamente, Manuel Bandeira não morreu cedo como sempre achou. Ele faleceu aos 82 anos de hemorragia gástrica, e não da tuberculose que o assombrou a vida toda.



“Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada



Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive



E como farei ginástica

Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada



Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar



E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.”

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