quinta-feira, 28 de junho de 2012

O que é literatura para a crítica?

Numa dessas noites de tédio e insônia (mais tédio do que insônia), comecei a zapear os canais a procura de alguma coisa que pudesse me distrair e acabei parando na TV Cultura, que estava passando um programa sobre o escritor Paulo Coelho. Como já estava na metade, não peguei muito bem as coisas, mas o trecho que eu vi falava justamente dessa polêmica quanto a obra dele, a de que muitas pessoas (leia-se críticos) dizem não ter valor literário.

É inegável que ele é um escritor de sucesso, suas obras foram traduzidas para diversas línguas, seus livros vendem muito e, lógico, ganhou muito dinheiro, mas mesmo assim não é respeitado. Nesse trecho do programa até mostrou a espécie de “boicote” que lhe fizeram numa feira literária em Paris, na qual os escritores brasileiros mais famosos foram convidados - menos ele. Então, ele decidiu ir por conta própria e causou o maior alvoroço entre os visitantes da feira, composto na sua maioria por estrangeiros. Incrível ver como ele é admirado e respeitado por eles, algo beirando a idolatria mesmo. 

Aí de volta ao Brasil. 

Um crítico dando a sua opinião. Ele lista alguns dos motivos para os livros do Paulo Coelho não serem considerados, digamos assim, literatura: parágrafos curtos, capítulos curtos e linguagem simples, e por aí vai… Olha, apesar de obviamente gostar de ler e de ler muito, não sou uma expert no assunto, mas na hora em que ele falou isso eu lembrei do Machado de Assis, o qual dispensa apresentação. Machado de Assis é de longe o escritor que eu mais li e leio, portanto, eu posso falar com uma certa propriedade. E gente, ele era o rei dos parágrafos e capítulos curtos, alguns capítulos inclusive eram compostos de apenas um parágrafo; no livro Memórias Póstumas de Brás Cubas tem um capítulo de apenas uma página composto apenas de reticências e pontos de exclamação e interrogação. Quanto a linguagem, se formos levar em consideração a época em que foi escrito, era bem simples.

Não estou comparando Machado de Assis com Paulo Coelho, não entendam errado! São estilos e épocas completamente diferentes. Eu li dois livros dele: O Alquimista e Verônika decide morrer e acho que Paulo Coelho é muito bom no tipo de literatura que se propõe a fazer, apesar de não fazer muito o meu estilo. Mas apesar disso tudo ele não tem o respeito da crítica especializada, pelo menos não da crítica brasileira, não sei como é no resto do mundo.

Engraçado, mas não sei por que eu acho que no fundo a crítica ainda está a procura de um novo Machado de Assis, o  qual vai salvar a literatura brasileira, tal qual um Messias. E eu também fico me questionando: será que se por um milagre, alguma espécie de metempsicose, Machado de Assis voltasse a vida num outro corpo e se lançasse como escritor, será que ele teria seu talento reconhecido?




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