domingo, 1 de julho de 2012

Mania de Erudição

Uma vez eu estava conversando, com um amigo que é figurinista, sobre moda e ele me disse algo mais ou menos assim: “às vezes eles colocam estampas bem coloridas e chamativas para disfarçar um trabalho mal feito”. Não sei por que, mas hoje quando eu estava lendo essa excelente matéria sobre Nietzsche e o fato dele ter sido um crítico do eruditismo exagerado e da escrita hermética, que na verdade servia para ocultar a falta de bons argumentos; essa conversa entrou na minha mente. 

Quem me conhece sabe que eu sou contra essa mania que algumas pessoas tem de escrever “difícil”, o que muitas vezes nos obriga a ler praticamente com o dicionário do lado. Durante um bom tempo eu paguei “um certo pau” para esse tipo de pessoa, toda vez que eu lia algo nesse estilo eu pensava “pô, o cara é muito bom, muito inteligente. Nunca vou conseguir escrever tão bem”. Até que com o tempo eu comecei a desconfiar e a prestar atenção de fato no que eu estava lendo; foi quando eu cheguei a conclusão que, tirando aquelas palavras difíceis e os termos técnicos, não havia nada demais ali. Nenhum argumento diferenciado, nada que eu pudesse levar para a minha vida.

Tem um em especial que segue essa vertente, por assim dizer, que escreve numa grande revista. E que se você for ver mais de perto, atrás das palavras mais rebuscadas, esconde-se um sujeito preconceituoso, chato, misógino e de mentalidade tacanha. Mas se você for ler os comentários, tá lá um monte de gente elogiando, “pagando pau”, porque ele aparenta inteligência, porque ele escreve de forma “culta”; e também porque ele escreve numa grande revista. 

Isso é uma síntese de um comportamento, de um modelo de pensamento no nosso país: que é a tal da mania de erudição, ou de pelo menos aparentar ser intelectual. Eu já falei aqui que o Brasil não é um país de intelectuais, ao contrário, portanto eu acho que nós temos que parar com essa mania de aparentarmos ser o que não somos. Sem contar o pavor que me causa essa ideia de ser considerado intelectual. Imagina a obrigação de ser sempre inteligente, de sempre ter que saber sobre tudo. Para mim isso é uma prisão!

E toda essa espécie de endeusamento da elite intelectual traz um certo prejuízo, ao meu ver, a individualidade. Porque acabamos deixando que ela nos diga o que é bom, o que deve ser lido, o que deve ser ouvido; e o que deve ser visto. Não nos baseamos no nosso gosto, na nossa subjetividade, para escolhermos que tipo de arte vamos consumir. Vou lhes dar um breve relato do que aconteceu comigo uma vez: eu vi na TV um crítico de cinema famoso falando muito bem sobre um filme,  isso despertou minha curiosidade e eu fui ver o tal filme. Eu odiei o filme. E até hoje me arrependo do tempo que eu perdi indo ao cinema e do dinheiro que eu gastei. 

De forma alguma eu sou contra o conhecimento, muito pelo contrário, mas assim como Nietzsche acho que o conhecimento deve ser útil para a nossa vida, tem que ser algo agradável. Não é muito mais legal quando você lê um livro que lhe agrada, independentemente do que a crítica diz sobre ele, do que ler algo considerado “cult” mas que você acha um porre e muita das vezes não entende nada? Eu acho que se você leu e gostou é literatura, pelo menos pra você é literatura. E todo mundo deve consumir o que gosta.

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