domingo, 12 de agosto de 2012

A Crônica da Cerveja Preta e da Cidra

Eu comecei a escrever um outro post. Um post de teor literário, reflexivo e um tanto crítico. Mas não sei por que minha mente começou um devaneio, um devaneio que me levou de volta a minha infância. Acho que é esse clima de dia dos pais… não sei. E esse saudosismo permeado pelo cheiro de churrasco, vindo do vizinho, que adentra a janela do meu quarto enquanto eu escrevo aqui; me levou de volta as reuniões familiares de quando eu era criança.

Mas antes eu acho que devo fazer um breve relato biográfico.

Eu sou filha de paraenses, mas nasci e fui criada no Rio de Janeiro. Passei toda a minha infância no subúrbio carioca, e subúrbio carioca sem pagodão e churrasco nos fins de semana, não é subúrbio. E churrasco sem cerveja não é churrasco. Então recordei de um desses churrascos, quando um pai tinha acabado de encher um copo com cerveja, aquela espuma branca quase derramando e o filho pequeno chegou com a boquinha perto do copo e sugou a espuma. Assim, sem pudor, na frente de todo mundo. Ele mesmo explicou tranquilamente, em seguida, que o filho já estava acostumado a beber a espuma da cerveja.

Certa vez, eu devia ter uns dez anos. Era carnaval e fazia um calor infernal. Lembro que fui no supermercado com a minha mãe, meu padrinho e a minha prima. Eles foram com o intuito de comprar bebidas e uns tira gostos. Não sei como ou quem, na sessão de bebidas, pegou umas cervejas pretas, mas lembro que a minha mãe disse “Ah, cerveja preta não tem álcool, a gente toma quando tá grávida pra ter mais leite”. Cerveja preta é algo pavoroso, não acredito que tenha alguém que curta cerveja preta. Mesmo assim, mais tarde, naquele mesmo dia, quando me foi concedida a oportunidade de tomar a bendita cerveja, eu enchi a lata. Tomei uma long neck sozinha e ninguém atentou para o fato de eu ficar bem alegrinha e sambar ao som da bateria das escolas de samba na TV; tinha algo a ver com isso. Talvez pensaram que eu só estava contagiada com a alegria do carnaval.

Acontece que cerveja preta tem álcool sim - muito pouco - é verdade, tanto que em alguns países ela é vendida como energético, no entanto, seu consumo é proibido para menores de dezoito anos.

Para quem é adulto e está acostumado a beber, cerveja preta não faz nem cócegas. Mas para alguém, como eu, que tinha dez anos na época e não estava acostumada a beber, o pouco álcool da cerveja exerceu algum efeito em mim. Não o suficiente para me deixar bêbada de fato, mas para me deixar um pouco alta. Eu não atentei para isso na época, só anos depois quando, já adulta, comecei a beber de fato.

Outra incursão inofensiva minha com a bebida era no Ano Novo. Era naquele momento da virada, onde me era permitido tomar uns golinhos de cidra. “Ah, não faz mal”, alguém dizia, “é fraquinho”. E toma lhe cidra! Me lembro que eu até chegava a roubar o copo de cidra da minha prima. Anos depois essa mesma prima, ao perceber que eu não me fazia de rogada diante de um copo de caipirinha recordou-se: “É; eu lembro que você sempre foi chegada, mesmo”. 

Acredito que muitas pessoas passaram por experiências semelhantes. Mas não acredito que seja irresponsabilidade dos pais, pelo menos não na maioria das vezes. Essa onda de fiscalização, de politicamente correto e normas restritas é algo relativamente recente. Até pouco tempo Biotônico Fontoura continha álcool na sua fórmula. 

E não, eu não virei alcoólatra, apesar de que o texto possa levar a esta interpretação. Gosto de beber, não vou negar, mas não tenho o hábito de beber frequentemente, nem tenho crise de abstinência se fico muito tempo sem beber.

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