domingo, 14 de outubro de 2012

Relendo O Cortiço

Eu não sei se eu já disse isso antes, mas eu sou muito a favor das releituras. Porque é muito comum você ler um livro e esquecer o pobre num canto, pegando poeira por anos. Até que um dia, por um acaso, você encontra o livro e, muitas vezes, nem se lembra mais que o havia lido. 

Assim foi com O Cortiço, romance de autoria de  Aluísio de Azevedo; eu o li há uns cinco anos atrás e, desde então, o livro ficou esquecido na estante, pegando poeira. Decidi relê-lo. E fiquei um tanto surpresa ao constatar a quantidade de detalhes que eu já tinha esquecido. 

O Cortiço, como pode ser inferido pelo título, é um livro cujo desenrolar da história gira em torno do cortiço e seus moradores. João Romão, seu proprietário, é um português ambicioso cujo único objetivo na vida é acumular capital; não medindo esforços e até usando de meios escusos para conseguir prosperar. Para isto ele conta com a ajuda da escrava Bertoleza, que faz as vezes de cúmplice, amante e empregada.

João Romão vive em pé de guerra com um vizinho rico, também português, chamado Miranda que vive num casamento infeliz com uma esposa infiel, Dona Estela, mas por depender do dinheiro do dote não pode se ver livre dela. Eles têm um filha - Zulmira - a quem os pais não conseguem amar de fato. Miranda, por supor que a filha não é dele; e Estela por supor que a filha é do marido. 

Miranda e João Romão invejam-se mutuamente. Miranda inveja a liberdade do vizinho, por ter crescido por conta própria e, portanto, não ser obrigado a se sujeitar a uma vida insuportável só para manter o alto padrão de vida. João Romão inveja o comerciante por viver uma vida de luxo, morar num imenso sobrado e ser casado com uma mulher de boa linhagem. 

Nisso surge na narrativa Jerônimo, imigrante português assim como Miranda e João Romão; e tal como eles também migrou para o país junto com a família, com o objetivo de enriquecer. Ele trabalha na pedreira de João Romão, localizada nos fundos do cortiço. Jerônimo é descrito como um trabalhador talentoso, homem correto e marido fiel. Até o dia em que aparece Rita Baiana, uma mulata sensual e fogosa, perfeita síntese da tentação neste Jardim do Éden tropical. O português passa a negligenciar o trabalho e torna-se irresponsável, esquecendo-se do seu objetivo, tendo como única fixação possuir a mulata.

É claramente perceptível na narrativa o racismo e a eugenia; pois o autor constantemente associa os aspectos negativos do brasileiro com a miscigenação. Mas devemos dar um desconto e levar em conta que Aluísio de Azevedo foi um homem do seu tempo e, portanto, refletia a mentalidade da sua época. 

E eu acho muito importante que obras assim não sejam censuradas, que as pessoas continuem tendo livre acesso a elas. Porque eu acho que a arte, e aí eu incluo a literatura, não tem a obrigação de ser bonitinha e cor de rosa. A arte tem que nos tocar e até nos chocar. E os livros antigos, como O Cortiço, fazem um retrato cru de uma época; o que nos permite conhecer os erros do passado e, assim, evitar que sejam repetidos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário