quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Tirésias e Orlando

Tirésias, na mitologia grega, foi um profeta cego que durante alguns anos de sua vida foi mulher. Diz a lenda que uma vez ele foi chamado no Monte Olimpo, para resolver um impasse entre Zeus e Hera; no qual a deusa alegava que os homens tinham mais prazer no sexo que as mulheres, enquanto Zeus alegava que as mulheres sentiam mais prazer. Ao que Tirésias respondeu: “se dividirmos o prazer em dez partes, a mulher fica com nove e o homem fica com uma”. 

Controvérsias a parte…

Milhares de anos depois, a escritora Virgínia Woolf retomou a temática no seu livro “Orlando”; no qual o personagem título, Orlando, foi homem metade da sua vida e, na outra metade, foi mulher.

A narrativa traça um panorama da Inglaterra desde a era elizabethana até o século XX, onde a vida do personagem é delineada em toda a sua complexidade e dualidade. Independente do seu gênero, Orlando é uma pessoa presa a questões existenciais - como todos os personagens de Virgínia Woolf -, vivendo em constante conflito. Orlando parece não se encaixar em nenhuma situação: nem como homem, nem como mulher. Ele parece questionar e relutar constantemente com a sua sexualidade, e com o papel e o comportamento, que a sociedade espera dele em ambas situações.

Orlando, em sua dupla vivência, experimenta o que há de melhor e de pior em ambos os gêneros. 

A escritora, que foi uma notória feminista, talvez tenha tido a intenção de mostrar - numa época em que as mulheres começavam a se emancipar - os dois lados da moeda. 

Algumas pessoas consideram a escrita de Virgínia Woolf um tanto hermética e difícil. Eu não acho. Eu acho sua escrita diferente, não difícil. Particularmente, eu acho “Orlando” um livro “normal” - quem leu “As Ondas” sabe do que estou falando. Mas eu acredito que tudo na vida seja uma questão de boa vontade.

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